A bolsa subiu e os juros futuros caíram. Ainda dá tempo de aproveitar?
Ao longo deste ano, a bolsa apresentou um crescimento de aproximadamente 10%. Se considerarmos o ponto mais baixo de 2023, a alta chega a 20%. Além disso, a taxa de juros caiu significativamente, com os juros futuros saindo de 12,6% para 11,1%, o que gerou ganhos expressivos em aplicações de renda fixa de longo prazo.
O mercado antecipou, como de costume, a queda dos juros e acelerou o movimento depois de ver que a inflação estava controlada e que o arcabouço fiscal poderia manter a dívida em um crescimento lento e controlado.
Para melhorar, o dólar perdeu valor em relação às moedas estrangeiras e o real valorizou, o que é uma boa notícia para o Brasil, já que melhora a perspectiva de uma inflação mais baixa e um PIB mais alto, música para a bolsa.
Gráfico I – Dólar index: o dólar chegou perto da máxima histórica e tem se desvalorizado contra as moedas do mundo
Mas a pergunta que interessa aos investidores é se ainda dá tempo de investir.
Uma resposta rápida é que sim, o valor atual e as perspectivas futuras nos mostram um alto potencial de valorização nos investimentos tanto em renda fixa quanto em ações.
Vamos examinar os dois:
RENDA FIXA
De acordo com o histórico, mesmo após o começo do corte de juros pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), a renda fixa longa continua tendo ganhos acima do CDI. Desse modo, é provável que os títulos de renda fixa de longo prazo tenham espaço para subir. Esses ganhos podem ser ainda maiores no caso das debêntures, que devido ao evento das Lojas Americanas, estão rendendo, em média, 1.3% acima dos títulos do governo. Algo muito raro de acontecer.
Gráfico II – Relação entre a Selic (linha laranja) e os juros pagos pela NTN-B 2035 (linha azul)
AÇÕES
Assim como na renda fixa, podemos ver no gráfico abaixo que, historicamente, investir na bolsa durante os meses em que o COPOM corta os juros, rendeu altas substanciais, mais de 40% nos últimos 20 anos.
Gráfico III – Relação entre a taxa de juros – Selic (linha laranja) e o Ibovespa (linha azul): a queda da taxa de juros impulsiona o Ibovespa
Além disso e principalmente, os múltiplos, como o Preço/Lucro da bolsa brasileira estão praticamente no mesmo nível que estavam durante a crise de 2008, até mais baratos do que durante a crise da COVID-19.
Somente uma volta perto da média ou mediana históricas já traria grandes ganhos para o investidor.
Gráfico IV – Múltiplo de Preço/Lucro do IBOVESPA: hoje em 6.7, ainda longe da média de 12.7 e da mediana de 11.9
Outro modo de ver o quanto as ações brasileiras estão baratas é comparando a bolsa do Brasil com as bolsas de outros de países emergentes, como China, África, México, Indonésia, Tailândia e Índia. Nesse caso também estamos mais de 50% abaixo da média do valor dos pares, trazendo um grande espaço em uma reversão à média.
Gráfico V –Preço/Lucro da bolsa brasileira em relação ao Preço/Lucro das bolsas de outros países emergentes
MOTIVOS PARA OS INVESTIMENTOS MELHORAREM
Ciclo de Reformas
Os ciclos de alta do Brasil normalmente vêm depois de um ciclo de reformas. Foi o que aconteceu de 68-73 no chamado milagre econômico, que foi antecedido por um ciclo reformista de 1964 a 1967. O mesmo aconteceu no ciclo de reformas que começou com a criação do Plano Real de 1994 a 2001 e que somente foi refletir em um período crescimento forte a partir de 2003. Nesse caso a demora grande veio por uma série de crises internacionais como a crise do México em 94, da Ásia em 97, da Rússia em 98, do próprio Brasil em 99 e das empresas pontocom de 2000 a 2003.
Hoje, novamente nos encontramos em um período após o ciclo de reformas feitas pelos governos anteriores, como a reforma trabalhista e a criação do Banco Central independente, que pode ter criado a oportunidade de um novo ciclo de alta.
PIB vs. Dólar Index
Em momentos de queda do dólar, o PIB brasileiro costuma apresentar um crescimento entre 2% e 3% ao ano. Nesse ano já aconteceu uma queda substancial da moeda americana e ainda teria um espaço para uma baixa maior. Seguimos acompanhando o Dólar Index, pois uma volta à média ajudaria no crescimento do PIB e dos lucros das empresas no Brasil.
Fluxo de investimentos
Gostamos de acompanhar o fluxo de investimentos de investidores internacionais e institucionais, pois são eles que normalmente puxam os mercados. Do que vimos, até o momento, muitos fundos ainda não conseguiram se posicionar completamente, o que indica um potencial de crescimento.
Sentimento, ou Boa Sorte Day
Como disse Buffett, “compre ao som de canhões”. Depois de três anos com a bolsa andando de lado para baixo, no início de 2023, o ex-ministro da fazenda Henrique Meirelles desejou “boa sorte” para os brasileiros. Isso foi a gota d’água que provocou uma venda maciça de ações. Esse evento, que ficou conhecido como o “boa sorte day”, levou os investidores a um sentimento muito negativo, aguardando o pior cenário possível. Esse pessimismo exagerado abriu espaço para um novo ciclo de alta, ou seja, uma reversão à média.
Trigger
Todos esses fatores são importantes, mas ainda faltavam triggers para destravar o valor e fazer o mercado virar. Uma série de eventos, como a queda da inflação, o arcabouço fiscal, o dólar mais baixo, a resistência do congresso às medidas antirreformistas e especialmente à possibilidade de uma queda de juros, acabaram acalmando o mercado e fizeram com que ele subisse.
Probabilidade
Acreditamos que esse cenário é o mais provável, porém ninguém pode garantir o futuro, especialmente no Brasil. Por isso usamos duas técnicas para nos precavermos contra incertezas:
- Contruimos um portifólio com diversificação adequada, qualidade e expectativa de alto retorno para cada investimento;
- Listamos e compramos seguros para acontecimentos menos prováveis que poderiam impactar os investimentos como:
• Mudanças no arcabouço fiscal;
• Crise nos países desenvolvidos;
• Eventos que trariam um efeito reduzido no crescimento do PIB, como uma baixa no preço das commodities, continuidade do alto nível de endividamento da população e aumento expressivo de impostos.
CONCLUSÃO
É um momento de oportunidades e acreditamos que estamos diante de um ciclo favorável devido ao dólar, às reformas que foram feitas nos governos anteriores, à provável queda de juros e ao fluxo de investimentos.
Vamos aproveitar essa janela de oportunidade investindo em renda fixa e ações com diversificação, qualidade e nos protegendo contra acontecimentos raros, que é a própria natureza do Black Swan.